segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Distantes da Educação


Por Lidiane Ramos Leal.
Não basta saber ler que Eva viu a uva.
É preciso compreender qual a posição
que Eva ocupa no seu contexto social,
quem trabalha para produzir a uva e
quem lucra com esse trabalho.
Paulo Freire


Criados para atender acordos políticos internacionais, especialmente orientados pela Organização Mundial do Comércio (OMC), os cursos de graduação à distância vem tomando força e proliferando com ofertas mirabolantes de uma mercadoria chamada educação. Com a proposta de formação de professores em exercício e acesso a segmentos mais empobrecidos, o governo de Fernando Henrique Cardoso aprovou o Plano Nacional de Educação (PNE), com um objetivo claro, qual seja, uma política de ensino superior pobre para alunos pobres. As metas estabelecidas por FHC continuaram sendo trabalhadas no governo Lula, embora não se possa desprezar o aumento significativo no número de universidades públicas federais nesse governo, bem como a ampliação dos institutos federais (antigas escolas técnicas).
Sabe-se que mesmo diante da melhoria, no sentido de acesso ao ensino superior, os índices de candidatos por vaga são ansiosamente esperados por quem presta vestibular em universidades ou faculdades públicas, por conta da altíssima concorrência na grande maioria dos cursos. Sabe-se ainda que os maiores beneficiados no sentido de acesso as vagas são os que acessaram uma melhor educação, que não é por acaso, que pesquisas mostram que esses alunos não vieram de escolas públicas. Com o sistema de cotas essa realidade tende a aliviar um pouco, no entanto, ainda é muito pouco, haja vista que esse alunos que acessam o sistema de cotas chegam a universidade e muitas vezes se deparam com a impossibilidade de frequentarem o curso pela falta de políticas de permanencia para alunos pobres, dentre outras questões.
Por conta da carência de vagas no ensino público presencial, muitos jovens são levados a acessar a modalidade de ensino à distância em instituições públicas ou com mais facilidade, de acesso no sentido de vagas (por motivo obvio!), em instituições privadas. Por essa razão acabam se submetendo a pagar por uma mercadoria que chamam de educação, e ainda sem a devida base para uma formação que possa sustentar uma boa qualidade, uma vez que os cursos presenciais normalmente apresentam valores mais elevados. E certamente ainda por precisarem ocupar seu tempo, que deveria ser de formação, com um emprego que lhe traga renda para arcar com os custos do ensino, já que o Estado não cumpre com seu papel oferecendo o ensino público, gratuito e de qualidade.
Fala-se aqui de ensino de graduação, ou seja, de formação básica! Onde o aluno precisa ter acesso a princípios que são imprescindíveis para uma formação de boa qualidade. A modalidade de ensino à distância não permite que os alunos interajam, por exemplo, nos debates, causando uma formação isolada, sem a possibilidade de desenvolver um senso crítico que lhe permita analisar e discutir outras opiniões. Não oferece o acesso a pesquisa, que é de fundamental importancia para o desenvolvimento da vida academica, principalmente no sentido de produção de conhecimento. Tratando-se de ensino à distância, considerando sua lógica interna, com foco no ensino virtual ou mediado por mídias, os alunos estão limitados a uma formação precária que não oferece as mesmas oportunidades que os alunos que frequentam os cursos presenciais, um fato que é lamentável, haja vista a importância de tais situações na carreira profissional, refletindo diretamente nas relações sociais.
No que se refere ao ensino à distância, trata-se se formação em massa e de baixo custo, onde os tutores (antigamente se tinha professores) são super explorados com altíssima lucratividade para o capital, em detrimento da educação de qualidade (que nunca tivemos, haja vista a dominação da lógica burguesa, no entanto, estamos nos distanciando ainda mais). Essa modalidade de ensino vai ao encontro dos princípios da contrarreforma do Estado, já que defende o Estado mínimo para a classe trabalhadora  e o Estado máximo para as tendências de acesso e adpatação ao mercado mundial, ao passo que redimensiona as políticas sociais.
Não somos avessos a tecnologia e a interatividade virtual, nada disso, só queremos usá-la ao encontro da qualidade. Esse suporte pode ser usado concomitante ao processo de ensino aprendizagem presencial. Mas, vale lembrar que nessa política que está envolvida a defesa pela tecnologia, a lógica central é cobrir um projeto de nação que não atendeu historicamente os anseios e necessidades das maiorias. E faz uso dessa ferramenta a fim, mais uma vez, de tratar as expressões da questão social de maneira fragmentada, em detrimento sempre da classe trabalhadora.
A luta pelo ensino presencial de qualidade não está associado de maneira alguma a ideia de impedir alguém de estudar, pelo contrário, queremos educação de qualidade a toda população! Queremos que o acesso a educação seja de fato tratado como um direito que deve ser viabilizado pelo Estado. Nem de longe a educação à distância visa proporcionar a democratização do ensino,  essa modalidade somente tem o propósito de cercear o processo de aprendizagem, já que o aluno é limitado a apostilas e textos, que conforme várias pesquisas salientam: este material proporciona somente a precarização bem como a limitação dos conteúdos, causando impacto direto no atendimento ao povo brasileiro.

Eu sou um intelectual que
não tem medo de ser amoroso,
eu amo as gentes e amo o mundo.
E é porque amo as pessoas e amo o mundo,
que eu brigo para que a justiça social
se implante antes da caridade.
Paulo Freire
Figura: Lidiane Ramos Leal

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