quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O desrespeito da empresa Paulotur agride o povo da Palhoça


Por Lidiane Ramos Leal, para Desacato.info.
Por volta das 8h da manhã, do dia 25 de fevereiro de 2013, chegamos ao trevo do Pontal, em Palhoça/SC, aproximadamente 400 pessoas estavam no local reivindicando seu direito de ter acesso ao transporte, ainda que privado. A manifestação aconteceu espontaneamente, pois os moradores ficaram durante mais de uma hora esperando ônibus para irem a seus destinos, e os ônibus não passavam, por conta de uma alteração dos horários, itinerários e tarifas, feita pela empresa Paulotur sem qualquer consulta as comunidades que fazem uso desse serviço.
Desse modo, um ônibus que partiu da Pinheira para Florianópolis, chegando ao Pontal, por volta das 7h:30min da manhã, foi parado pela população, pois a paciência dos moradores que ali estavam desde às 6h,  aproximadamente, se esgotou. Esse único ônibus, que estava lotado não poderia levar os passageiros, então os moradores insatisfeitos com essa atitude injustificada, por parte da empresa Paulotur, decidiram coletivamente parar os ônibus que passassem por ali desde então, até que seja tomada uma decisão coerente e que atenda as demandas da população.
O que aconteceu foi que, na semana passada os moradores foram informados que a empresa Paulotur aderiu ao sistema de urbanização. Dessa maneira, a comunidade do sul de Palhoça teria um novo horário de ônibus, itinerário e ainda tarifas diferenciadas, em alguns bairros reduziria o valor das passagens, em outros bairros esse valor aumentaria.
Em sua fala G. I. L. (16), moradora do bairro Praia do Sonho nos apresenta grande parte das dificuldades que os moradores do sul de Palhoça estão enfrentando com essa nova mudança realizada pela empresa Paulotur, “concordo com a manifestação porque sábado cheguei ao ponto de ônibus na Praia do Sonho às 8h da manhã e somente consegui pegar o ônibus às 11h da manhã, cheguei atrasada no serviço e foi chamada minha atenção. Hoje é a mesma coisa, eu nem posso ir trabalhar e amanhã nem sei como vou fazer, estou apavorada, vou perder meu emprego. Eu liguei para empresa que trabalho, explicando o que está acontecendo, eles falaram que vão explicar para os chefes, tudo certinho, mas eu vou ter essas horas descontadas no meu salário”.
Elieu Pereira (24), “A paralisação é muito importante, se não for assim, ninguém faz nada. Estou desde às 6h da manhã esperando o ônibus para ir trabalhar e ele não passa, mudaram os horários e ficou péssimo, porque simplesmente não tem horários com as linhas de ônibus que usamos. E sem contar os valores absurdos que vamos precisar pagar se tiver que pegar uma outra linha, por exemplo, eu moro no Pontal e trabalho na Palhoça, se eu precisar pegar a linha Florianópolis, eu preciso pagar até lá, e é bem mais caro, ficou horrível. Se você pedir para o patrão pagar a passagem para que você possa pegar outra linha, nesse caso até Florianópolis, e não dificultar tanto assim a sua chegada no trabalho, ele não vai querer pagar e eu vou perder o emprego, porque também não consigo tirar a diferença do meu salário. Isso ainda que a linha de Praia de Fora até Palhoça custava R$ 2,45 agora custa R$ 2,65. Nós sabemos que os motoristas e cobradores não tem culpa e o pessoal que está aqui sabe disso, nós respeitamos, somos trabalhadores que estamos querendo ir trabalhar. Aqui poderia passar outras empresas, é horrível, é só a Paulotur. Além dos ônibus serem precários, eles abusam nas passagens e ainda  fazem isso com a gente. A empresa é tão precária que chamaram a polícia agora e um ônibus ficou preso porque não tem documentação.”
Thiago Pereira da Silva (18) “Tou desde as 6h aqui e se a gente não fizer nada, não vai mudar nada. Esse horário de ônibus ficou péssimo, e ainda eles nos deram um folheto com um horário que mudou três vezes, não sabemos nem qual é o horário certo. Os horários antigos dos ônibus já eram ruins, e agora ficou pior ainda”.
Maristela Pereira (42) “Precisamos de ônibus, esse é um direito que todo trabalhador tem, meu marido conseguiu pegar o ônibus às 5h:15min, depois os ônibus só foram aparecer depois das 7h, como pode acontecer um negócio desses?”.
Jeber dos Santos (22) morador da Guarda do Embaú muito indignado com a situação nos diz, “A Paulotur não tem capacidade e ônibus suficientes para atender essa população, ainda mais com esse esquema que estão implantando, é uma empresa que tem um monopólio há aproximadamente 30 anos desde Garopaba até a Palhoça. É uma única empresa para essa montoeira de gente, um absurdo! Os ônibus vão igual a um caminhão de frango amontoando todo mundo, isso é um descaso. Eu pego o ônibus desde moleque e nunca mudou o jeito de sermos tratados. E essa empresa tem contrato até 2016 para ficar nos explorando e se não fizermos nada eles vão renovar esse monopólio e vamos continuar nesse descaso absurdo. Para nos “ajudar” ainda mais, a prefeitura ta toda esculhambada, o prefeito, que ainda é prefeito interino, só quer saber de viajar para fora do Brasil.”
Maria de Fátima de Medeiros Espíndola (48) “Nós precisamos nos manifestar já que estão abusando com esse novo horário. Assim, eu vou chegar à Costeira, onde trabalho, quase no horário que eu devo estar voltando. A empresa Paulotur não tem ônibus suficiente para fazer isso que eles querem, e quem vai precisar pagar mais caro é a população, só piorou pra nós. E ainda, eu preciso ficar 2 horas esperando o ônibus para voltar pra casa, depois de um dia de trabalho”.
Daniela Cristóvão (19) “É realmente um absurdo! Quando o dono da empresa Paulotur chegou ao DETER para apresentar essa proposta ele não pensou nas pessoas. O que passa na cabeça dessas pessoas (responsáveis da Paulotur) para fazer isso com o povo? Como eles querem melhorar colocando uma linha, (ex: Praia de Fora até Palhoça) a cada 2 horas, ou até mesmo a cada 4 horas como acontece com algumas linhas? O pessoal do Morretes tem ônibus às 8h:30min e depois só depois das 12h, eles não precisam de ônibus?”
Márcia Francisca Alff (30) “precisamos nos manifestar, pois eles só querem nos prejudicar com esse horário que estão querendo implantar, é uma vergonha o que eles querem fazer com a gente. Eu tenho uma filha especial e preciso levar ela para o centro para fazer exames e ser atendida pelos médicos e agora com esse horário nem sei como vou fazer para sair com ela”.
Daniela da Silva (18), moradora do Pontal, “tudo isso começou há umas duas semanas quando a empresa Paulotur resolveu colocar ônibus com preços únicos nas linhas, assim quem reside na Praia de Fora se precisar ir para Palhoça, com esse sistema por essa linha ser rara o passageiro terá que pegar outra linha e pagar o valor bem mais alto. E ainda os ônibus que usamos vivem quebrando e ficamos na estrada. Vamos permanecer na manifestação, respeitamos todas as pessoas e só queremos respeito também, não merecemos esse tipo de tratamento”.

Israel Soares (24), morador do Pontal, “ontem eu trabalhei de segurança, saí do meu serviço às 22h:30min, cheguei ao centro pra pegar o ônibus faltando 10 minutos para as 23h e já não existia mais ônibus. Tive que pagar um táxi e gastei R$ 100, isso é um prejuízo para o trabalhador. Eu ganho R$ 120 por noite vou pagar R$ 100 para voltar pra casa? Como eu vou sustentar minha família assim? Se eu fosse esperar o próximo ônibus teria que ficar no centro, até às 6h do outro dia”.
Um motorista da empresa que não quis se identificar (por motivos óbvios) nos afirma que está apoiando a manifestação, “pois foram tirados muitos horários, estão deixando os trabalhadores sem horário de ônibus para irem trabalhar, o pessoal dos colégios estão com muitas dificuldades, foi urbanizado e a empresa está ganhando subsídio, então não tem motivos para fazer esse corte de horários, o pessoal paga passagens, mas quer horários, vamos juntos lutar pela dignidade do povo!”
Mesmo após inúmeros contatos com a empresa Paulotur, os representantes dessa empresa se negaram a vir até o local conversar com os passageiros. Assim sendo, por volta das 9h:30min, 12 representantes se organizaram a fim de irem até a empresa conversar com um dos responsáveis pela situação. Um motorista se dispôs a dirigir um dos ônibus que estavam parados no local e a levar os manifestantes para negociar com os representantes da empresa.
Ao chegar à empresa, os manifestantes foram atendidos pelo gerente geral da Paulotur, o senhor Diogo Alves. Diogo recebeu o convite dos passageiros para ir até o local da paralisação conversar e negociar com os manifestantes. Diogo disse que essa alternativa estava fora de cogitação, e que indo até o local ele não resolveria nada. O gerente tentou se justificar e ainda afirmou que esse novo projeto e seus horários já estão prontos a mais de 1 (um) ano. Diante da afirmação do gerente, com toda razão, os passageiros ficaram ainda mais revoltados, pois em nenhum momento foram consultados acerca desse projeto que tende a mudar profundamente a dinâmica de vida dessas comunidades. Durante a conversa, após questionamentos, o gerente afirmou que a empresa não recebe subsídio da prefeitura por ter feito a urbanização do transporte. O gerente pediu licença aos manifestantes, pois precisaria fazer uma ligação para conversar com os acionistas da empresa e com o Departamento de Transportes e Terminais – DETER para saber qual posição aderir. Desse modo, após alguns minutos de espera os manifestantes que, foram pacificamente, conversar com o representante da empresa foram surpreendidos por duas policiais militares que afirmaram terem sido chamadas, pois havia pessoas armadas no local”.
Ora, os representantes das comunidades foram conversar tranquilamente para resolver essa situação de violência por parte da empresa Paulotur, alguém (ainda não sabemos quem foi, somente sabemos que é um grande covarde), chamou a polícia para barrar essas pessoas e ainda mentiu dizendo que estavam armados. Deveriam ter vergonha disso! Isso sem contar que uma das policiais se sentiu ofendida por ter sido fotografada pelo Portal Desacato e exigiu a câmera fotográfica para que sua foto fosse apagada, em total desrespeito a liberdade de imprensa e expressão. O senhor Diogo percebeu, certamente, que a proteção de policiais era desnecessária e então dispensou as moças que vieram proteger a empresa (elas se retiraram do local sob vaias). Muitos questionamentos foram feitos ao senhor Diogo, e este nos afirmou que a empresa atende aproximadamente 60 mil clientes, com 110 funcionários e tem uma frota de 50 ônibus (o que foi contestado por algumas pessoas que fazem uso do serviço, pois acreditam que a empresa deve ter aproximadamente 20 ônibus). Após um considerável tempo de espera, veio a informação que o DETER agendou uma reunião para as 16h, na sua sede em Florianópolis. Desse modo, os manifestantes escolheram os representantes que estariam presentes nessa reunião e voltaram para a manifestação no Pontal.
Algo interessante aconteceu na volta dos manifestantes ao Pontal: o ônibus que estavam voltando teve um problema no meio do trajeto (fundiu o motor) e não pode avançar na viagem. Após quase 1 hora de espera, outro ônibus chegou para concluir a viagem. Sabemos que isso não é novidade para os usuários da empresa Paulotur, pois acontece com uma freqüência considerável, como inclusive, vários manifestantes reclamaram.
Conforme combinado, a reunião foi realizada por volta das 16h no DETER, estavam presentes: representantes do DETER, das comunidades do município de Palhoça, proprietário da empresa Paulotur e Sindicato dos Trabalhadores em transporte Urbano, Rodoviário, Turismo, Fretamento e Escolar da região metropolitana de Florianópolis  – SINTRATURB. O propósito era reorganizar e readequar os horários implantados no sistema de urbanização implantado.
Os manifestantes permaneceram unidos no local, mesmo diante da forte chuva, aproximadamente 500 pessoas estavam aguardando uma posição dos representantes. Por volta das 20h:30min, os representantes da comunidade chegaram ao local junto a SINTRATUB.  Com a seguinte decisão:
1)      a empresa se compromete a aceitar os passes do dia 25 de fevereiro até o dia 15 de março;
2)      compromete-se, ainda, disponibilizar ônibus emergenciais de acordo com as necessidades;
3)      no período de 15 dias serão realizadas reuniões com as comunidades, para adequação de horários e
4)      as comunidades se comprometem a não interferir na operação do sistema.
A comunidade que estava aguardando uma posição, que realmente contemplasse as suas necessidades, não se sentiu satisfeita. Uma vez que teriam que aguardar 15 dias, na expectativa, para saber se teriam suas necessidades atendidas. Não concordando com o resultando da reunião, (segundo os representantes que participaram da reunião, essa foi muito difícil e cansativa), os manifestantes mantiveram a posição de continuar com o protesto, ou seja, sem que os ônibus saíssem do lugar até que uma atitude mais séria fosse tomada. Assim, os representantes do SINTRATURB fizeram contato telefônico com representantes da empresa Paulotur e do DETER a fim de resolverem à situação. Após várias discussões chegou-se a uma conclusão, qual seja: a empresa irá disponibilizar vários horários de todas as linhas solicitadas além de aceitarem os passes, conforme já haviam combinado. Ainda assim, os passageiros não se sentiram seguros, no entanto, por volta das 22h:30mim resolveram liberar os ônibus e voltar para suas casas. Porém, os passageiros esclarecem: “se a empresa não honrar com o seu compromisso, os ônibus vão parar novamente”.
Fotos: Lidiane Ramos Leal

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